31.10.11

Geek Music

Em tempos de Internet, o tempo é dos Geeks.

Para clarear o que eu estou dizendo, é preciso entender que, em seus primórdios, a grande comunidade de programadores que pouco a pouco formulou a rede mundial se caracterizava pela troca de informação e pela popularização de seus avanços em busca de um certo tipo de “honra” ante a comunidade que viria a ser denominada a cultura hacker. Tendo a Internet atingindo um bom grau de maturidade nos dias de hoje, é notável como algumas orientações antes vistas apenas dentro daquele grupo de universitários esquisitos e anti-sociais se ampliaram ao público leigo. Pois a Internet é o espaço onde se busca a informação por si só, onde os produtos culturais são personalizados em torno da pessoa que os “encontra”. Todos aqueles com uma mínima experiência na web têm os sites que eles encontraram, os vídeos que só ele e mais mil pessoas ao redor do mundo sabem da existência. Enquanto com a TV e a mídia gravada há um bom grau de passividade na eleição de seus filmes, músicas, programas, a Internet proporciona uma atividade inversa.

Considerando que este ambiente é aquele que, com efeito, destrói dia a dia a indústria fonográfica e define as tendências da audição musical entre os jovens, pode-se notar que há uma personalização nunca vista antes no que diz respeito à seleção pessoal de artistas. O movimento retrô, a revalorização de artistas que fizeram sucesso ao longo do século XX segue este preceito. Pois um vídeo do Chuck Berry está em igualdade de visibilidade ao de qualquer artista contemporâneo dentro do site de compartilhamento. Um jovem do século XXI, com o esforço de alguns cliques e downloads, transforma seu HD num acervo completo de rock dos anos 70. Ele vai atrás, e ele tem em torno de si um conjunto próprio e muito específico de produtos culturais, muitas vezes desconhecidos e outrora esquecidos ou subvalorizados.

Neste momento, ainda estamos numa fase onde se busca a música no contexto daquilo que aprendemos a ouvir nos anos 90 e início deste século, isto é, rock-pop. Volta-se subitamente para as raízes deste tipo de música, que é o que se entende melhor, o que se encaixa em nossos ouvidos. Porém, o formato deste tipo de música é uma potencialidade de cópia, milhões de cópias. Não que isto diminua a qualidade da música, mas é um tipo que se dá bem quando copiada e reproduzida ad infinitum. Caso passe este momento de retrocesso constante, não precisar-se-á fazer um som marcante, de refrões e de simplicidade para capturar o público. Pois, na web, é o público que captura o artista. A partir desta linha de pensamento, podemos concluir que acabou esta história de música comercial daqui para frente, e que o artista deve encontrar seu espaço naquele grupo seleto e específico que se personaliza através da música, de vários grupos como estes. É a hora dos Geeks.  

28.9.11

Classic-Rock in Rio


Em meio ao frissom midiático da quarta edição do Rock in Rio, um discurso se faz onipresente para todos aqueles minimamente envolvidos com o Rock e seus rebentos, sejam headbangers, indies, etc.

“Tá comercial demais esse negócio, pasteurizado”
“IVETE SANGALO? CLÁUDIA LEITE? E ainda têm a cara de pau de chamar de Rock in Rio?”

E dessas mesmas bocas, saem alguns comentários que, ao meu ver, são apenas a outra face da moeda acima citada

“MOTÖRHEAD deu uma aula de Rock, sem enrolação, sem frufru”

De um lado, o bussiness. O dinheiro tem que vir, e, para isso, pavimentou-se todas as possibilidades de público para o festival, fazendo-se misturas muitas vezes duvidosas entre artistas que compartilham o palco, com duetos e infinitas participações especiais, chamando nomes da música com público sólido, mas que guardam grande discrepância com, digamos, o próprio nome do festival.

Do outro lado, o clássico, o unânime, principalmente no que se refere às bandas de heavy metal. SEPULTURA, ANGRA, METALLICA, RED HOT, os caras que estão tocando o Rock com R maiúsculo, oriundos de outras cenas, outros tempos. Mesmo o SLIPKNOT, mais recente, cai nessa categoria (por sinal, para mim, o melhor concerto de todos até agora).

O que é novo está morno, salvo uma ou outra excessão. O GLORIA, por exemplo, é uma boa banda, mas mingua ao dividir espaço com aqueles que originalmente fazem o som que eles fazem. O MATANZA, outra banda muito competente, viu as bandas glorificadas oferecerem ao público tudo aquilo que eles têm para oferecer em sua forma original, à excessão da língua. Olha que esses são os melhores, pois acho que nem preciso mais gastar palavras para caracterizar o movimento indie e neo-regionalista. Ao menos, no segundo caso, a matriz original estava lá, o NAÇÃO ZUMBI, mesmo que numa parceiria ao meu ver bastante inoportuna.

O público ficou em chamas, a grandiosidade da audiência espantava cada um dos músicos que subia no tablado. Público este sedento por Rock, não resta a menor sombra de dúvida. Então, o que está acontecendo? Se o Rock realmente estivesse morrendo, estas pessoas não estariam fazendo o que fazem, este público não estaria agindo com tem agido. Mesmo que os quarentões, cinquentões e até os 64 anos de LEMMY KILMISTER tenham sido as atrações principais (de rock, naturalmente), o público jovem expressou com toda sua força a sede de rolar na pedra.

Alex Ross, em seu mais novo livro, faz uma interessante comparação entre as fases da música erudita/clássica e o jazz, como que insinuando o destino de todos os estilos que marcaram uma era e ensinaram uma geração a se perder na música. Basicamente, uma dialética artística, onde a revolução inicial se transforma em solenidade, esta se tornando esnobe e sendo combatida por uma contra-cultura, esta contra-cultura sendo combatida por um resgate ao estado originário, por sua vez seguido de uma limitação criativa. Limitação esta não relativa à criatividade individual do músico, mas às possibilidades de originalidade dentro do estilo. Em suma, seu argumento é: “Ao fim, toda música se torna clássica”.

Se comparássemos este modelo ao Rock, eu diria que estamos numa fase onde as pessoas têm pouca paciência para invenções de moda, para os rebentos mais recentes da sua evolução estilística. Old school é a palavra de ordem, ao ponto do estilo vigente na mídia ter como pressuposto estético o retorno aos “tempos de ouro”.  Não há horizonte revolucionário, a atitude revolucionária do Rock tem como seus ícones coroas da idade de nossos pais. Emula-se a rebeldia e ruptura de outras guerras, de outras revoluções. Diz-se que falta “atitude” nos rockeiros atuais, e vangloria-se esta mesma “atitude” naqueles que fazem o que já foi feito, naqueles que se privam de mudar as coisas e botam o pé no chão, ou melhor, no chão dos anos 60, 70, 80. O público é sincero, e a energia que eles buscam no Rock é uma energia que, agora, só conseguem enxergar no passado. Não adianta criticar esta postura, pois não é derivada de nenhuma falta de caráter, investimento ou talento artísco.

Ainda há milhões de corações e ouvidos junto ao Rock’n Roll, mas há pouco a se fazer por sua evolução. Ele não está morrendo, de forma alguma. Está apenas se tornando clássico.

7.8.11

O futuro das bandas: rentável, artisticamente rico, mas quase impossível de ganhar adeptos hoje em dia.


As bandas estão se ferrando à esquerda e à direita. Ponto. E o motivo disso é tão simples como a afirmação anterior. Simpelsmente não ganham mais dinheiro. Ok, antigamente só algumas ganhavam dinheiro, mas isso era suficiente para que puxasse todo o underground. Hoje em dia, as bandas que ganham dinheiro de verdade, isto é, vendendo disco, são bandas com uma base de fãs sólida e fiel, criada ao longo de ao menos uma década. E, mais importante, ao longo de uma década onde efetivamente se comprava discos, mais precisamente dos anos 40 até os anos 90. Tenho boas novas para aqueles que querem montar uma banda, gravar um disco e fazer sucesso com ele: não vai rolar, seja você o músico mais talentoso e carismático do mundo. A não ser que você seja uma LADY GAGA ou um JUSTIN BIEBER, e mesmo essa galera não ganha grana com disco! Eles ganham com aparições na mídia mainstream e com a publicidade que geram para esta. Mas já que o papo se volta mais ao rock e suas vertentes menos “televisivas”, não tem para onde correr. Na verdade até tem, mas parece que a maioria dos artistas está se esquecendo que o dinheiro é que possibilita se dedicar ao árduo trabalho de produção musical. Sem ele, é hobby, com menos tempo, menos qualidade, menos comprometimento e menos construção.

Este porto seguro, a Internet, inicialmente foi um vilão. E na mente de muitos ainda é, pois estes, esclarecidos em parte, pensam na grana. Porém, em vez de pensar na grana e na internet juntos, soltam aquelas pérolas que, se por um lado me desanimam, me alegra pensar que não há muitas pessoas afim de competir por dinheiro e publicidade num negócio promissor e praticamente inexistente. Bom para quem quiser. Perólas do tipo “não baixem música! Comprem o CD para apoiar o rock nacional!”. Ahã. Como se os ouvintes estivessem realmente preocupados. Como se antigamente as pessoas não tivessem que ferir seu orçamento só para ouvir música, pois 30 reais num CD não é pouca coisa para quem ouve centenas de artistas, cada um destes com dezenas de albuns. Apelar para esse tipo de coisa é caridade, não uma base de negócios, necessaria à sobrevivência da música como um todo.

Existe o outro lado. Aqueles que começaram a ver a internet como um aliado. E alguns até foram mais longe, vendo a internet como o futuro do músico. Postam vídeos no yout.., disponibilizam som no mysp..., e com isso ganham visibilidade e popularidade. Porém, parece que eles são um bando de herdeiros de fortunas, pois, em termos de negócios, dão um tiro no próprio pé. Você vai no site duma banda dessas, com sucesso e público consistente no youtube e myspace, e vê eles promovendo um CD! Parece lógico, sensato, até óbvio, mas é uma das maiores incongruências possíveis.

Vou fazer um paralelo fanasioso. Imagine que fosse possível, por tecnologia de teletransporte, “baixar” gratuitamente uma peça de roupa duma grife, que iria aparecer direto na sua casa. Agora, vamos supor que esta grife tivesse um site que disponibilizasse o download grátis de roupas. E que neste mesmo site, houvesse um anúncio: Passe na nossa loja e compre algumas roupas. Você compraria a roupa na loja, podendo baixar de graça? Alguém compraria? Certamente a loja iria à falência em menos de um mês.

Agora, falemos de música. Não é fantasia, você realmente pode baixar uma música gratuita e ouvi-la no seu computador! Agora, suponhamos que o artista em questão tenha um site, onde se pode ouvir ou baixar as músicas gratuitamente. E neste mesmo site, certamente haverá uma anúncio “Compre aqui o novo álbum da banda, por 30$”. De repente, a fantasia absurda e até hilária se confirma na realidade. O artista só não fale pois a visibilidade que ele ganha na web o permite fazer shows e mais shows. Pobres, porém ativos. Mas sem horizontes de expansão financeira. Ou seja, vai ter que acabar esse negócio de 200 shows por ano quando o cabeludo tiver uma família para sustentar e tiver que fazer um concurso público, ou, para aqueles que deixaram tudo para viver de rock, ser frentista de posto de gasolina. As bandas estão nadando em uma popularidade que, segundo a lógica antiga do mercado musical, lhes renderia dinheiro. Mas, adivinhem só, a lógica morreu. Se não morreu, está em seu epitáfio, em seus últimos suspiros.

Mas visibilidade sempre gera dinheiro, popularidade sempre gera dinheiro. Então para onde está indo a renda que estas bandas geram com seu trabalho? Ah, enfim o novo vilão surge, mascarado na forma de propagador dos artistas e de democratizador. E ele concentra em si não só um, mas vários artistas. E, ao contrário da velha indústria fonográfica, não dá nem um centavo para o músico.

Seu nome é Yout... . Seu nome é Myspa... . E alguns outros que catalogam o conteúdo criado pelos músicos, vêem suas plataformas com um movimento astronômico de usuários que buscam estes mesmos músicos, e fazem dinheiro da única forma possível para aqueles que vivem de produzir conteúdo gratuito, desde a época do surgimento da imprensa: propaganda. Pois sua música está na plataforma myspa... e yout..., e é pra eles que os anunciantes pagam. Eles popularizam o artista e, ao mesmo tempo, ficam com os ganhos.

A principal dificuldade que os músicos têm na hora de se dar conta disso é justamente o fim da produçao musical que eles almejam. E este fim é o produto-álbum, seja CD, vinil, K7 ou DVD. E a própria estrutura da música está adaptada para isso. A banda é o símbolo derradeiro da música feita a fim de se produzir um objeto, que deve ter milhões de cópias vendidas. Mas agora o conteúdo deste objeto é gratuito. E, pior ainda, muitos artistas vêem sua arte impossibilitada de voar livre pela web por contratos de gravadoras, detentoras do direito de cópia. O tiro no pé aqui é propagar gratuitamente seu som (que hoje vale mais a pena do que se reduzir ao CD, até porque seus próprios fãs farão isso por você) com a finalidade de propagar um produto. E, pasmem, o mesmo produto que se está oferecendo gratuitamente naquele exato momento. É só se lembrar da anedota do download de roupas que eu escrevi acima. O que se deveria fazer é pensar no conteúdo. E em ganhar com esse conteúdo. E ganhar com conteúdo significa ganhar com anúncios. E ganhar com anúncios significar estar em posse, ou pelo menos ser um funcionário oficial, do espaço onde este conteúdo é veiculado. E para que isso ocorra, é preciso uma mudança ainda mais profunda, na própria forma como a música é produzida e executada. Pois a música-produto, mesmo que seja de uma banda de ultra-prog-gore, tem o sentido de cópia. Cópia de albuns. O pote de ouro ficará com aqueles que direcionarem sua música a um sentido de conteúdo: gratuito, variado, em grande quantidade e, o mais importante, sediado num espaço publicitário densamente visitado. Espaço este, por sua vez, em contato direto com o produtor do conteúdo, seja numa relaçao de posse ou numa relação empregatícia.

No outro lado da moeda, está o sonho, o desejo de ser o METALLICA, o GUNS’n ROSES, de tirar seu dinheiro dos CDs, ficar rico com isso, emplacar músicas consagradas, de ter um álbum seu na mão de cada adolescente rockeiro. Pois é, eu gostaria de ter sido um pioneiro na exploração do petróleo e fundar a US Oil, eu gostaria de ter uma colônia na África para produzir cana-de-açúcar com trabalho escravo. Tem que ser realista, deixar seu sonho apenas na sua própria realização musical, que, ao fim, é o que importa, mesmo para aqueles que ficaram milionários com suas vendas de álbuns.

Agora, se você acha que eu não estou falando nada com nada, é melhor deixar a franja crescer e bater na porta da MTV, da Globo, pois o meio termo é para aqueles que herdaram uma fortuna e não têm que tirar da música autoral seu pão de cada dia.      

1.8.11

Vida inteligente na indústria do rock parte 2: Freak Kitchen



Ah, rapaz! Dou continuidade à série falando sobre uma banda que há muito está na estrada, virando a cabeça daqueles que a ouvem. Porém, o som deles é como um sopro de vida no hard rock/metal contemporâneo e, principalmente, para os guitarristas afundados num mar de Satrianis e Malmsteens Aqui, o ponto forte não está na inovação estrutural, mas na música que eles produzem. Senhoras e Senhores, com vocês, Mattias "IA" Eklundh e o Freak Kitchen!

É quase impossível falar de Freak Kitchen sem falar em IA. Para quem não o conhece, é um sujeito sueco, natural de Gotemburgo, terra do IFK (para os futeboleiros de plantão). Mesmo que não seja famoso ao grande público, já é considerado um dos maiores guitarristas de todos os tempos, com estilo único, virtuosismo, e alguns artifícios técnicos que ele mesmo desenvolveu, em especial os seus harmônicos alavancados que não soa igual a nada que você tenha ouvido. Enfim, o Freak Kitchen surge da necessidade deste sujeito em fazer um som com a sua cara, com a colaboração de dois outros destros músicos, Christer Örtefors, baixista de visual único, e o baterista Björn Fryklund (ou seria Freaklund?).

E o que eu tenho a dizer sobre esses caras? Inovação, alcance técnico, experimentação, fusão, tudo num formato que, pasmem, não te faz dormir na cadeira. Muito pelo contrário, as músicas são empolgantes e têm uma grande tangibilidade para aqueles que não se interessam pelo aspecto técnico da coisa. É heavy metal, mas quase não se vê lugares-comuns do estilo ali. É progressivo, com compassos quebrados e linhas instrumentais, mas tudo de forma concisa, e até suingada. É rock, mas está cheio de influências diversas.

Enfim, são os filhos do Zappa em sua versão "viking", metálica e loura. Para aqueles que desejam ouvir Mattias Eklundh em sua carreira solo, busquem por Freak Guitar, produzido pela empresa de Steve Vai, que deve ter tido um surto quando ouviu o camarada acima pela primeira vez.

Mas nem tudo são flores, mesmo que o Freak Kitchen seja um campo densamente florido. O site deixa a desejar. A estrutura de marketing é a mesma de todas as bandas que eu tanto cutuco. O que compensa é o fato de IA ser um grande nome no campo guitarrístico, gerando boa profusão de endorsements visíveis no site. E o blog é muito interessante, principalmente devido ao fato de Mattias ser uma figuraça. Muito bom o diário deles em Dubai.

Há vida inteligente, pessoal! Não percam as esperanças!



Vida inteligente na indústria do rock parte 1: Moonalice

Começo aqui uma série de referências a artistas que representam propulsão, futuro, tanto em termos musicais como em termos mercadológicos. O primeiro estreante é o Moonalice.

Moonalice é uma banda de músicos veteranos, que, em seu projeto musical, apresentam algo agradável, porém longe de ser inovador. Basicamente, eles fazem um rock ao estilo Hippie de San Francisco, buscando um som raiz. E o fazem com muita destreza.

Porém, o que me chamou a atenção no Moonalice não foi o som. O que chamou a atenção foi a estrutura virtual-mercadológica vanguardista que eles criaram. Para começar, eles transmitem os concertos ao vivo através de um canal no twitter chamado Moonalice TV. Além do aspecto ao vivo, há um acervo enorme e de grande qualidade visual e sonora de praticamente todos os concertos que eles realizaram. Parece básico, mas eu passei as últimas semanas apreciando com desgosto vários websites de bandas e seus vídeos na internet.

Em segundo lugar, eles se focaram em criar em torno da banda uma gama de produtos em consonância com a proposta artística. As camisetas são muito interessantes, não é aquela coisa preta ou branca com o logo da banda. Eles criaram posters. Livros. De tudo um pouco e, mais importante, este de tudo um pouco em integridade com o produto musical que eles oferecem.

Em terceiro lugar, eles, ao invés de cometer a cagada bandística (pelo menos nos dias de hoje) de fazer aquele álbum de doze faixas sob o bastão lucrativo de um selo ou gravadora, eles produziram EP's de cinco músicas, vendidos a cinco dólares cada.

Enfim, eis a vida inteligente mostrando sua cara no desgastado mundo das bandas de rock.

Chequem e apreciem com cuidado: http://www.moonalice.com/

31.7.11

Um Buraco no meio do Porão

O porão do rock é uma grande tradição aqui nos sertões do Brasil. Uma das questões que mais instigam os “bandeiros” de Brasília é tocar no Porão, como é conhecido, com a oportunidade de atingir um público muito mais amplo que o de costume, além de dividir palco com artistas renomados. Muitos viveram o início dos dias de glória ali, o que oficializou o Porão do Rock como principal alavanca para as bandas de rock e metal do DF.

O último fim de semana, mais precisamente os dias 29 e 30 de julho de 2011, foi um fim de semana de porão do rock. Ingresso de preço irrelevante, local costumeiro, o frio noturno do inverno brasiliense que caracteriza o festival, tudo estava nos conformes. A maior parte do público foi atrás de alguns dos grandes nomes que figuravam na programação: RAIMUNDOS, ANGRA, KRISIUN, JOHN SPENCER, SYMFONIA (de André Matos e Timo Tolkki). Porém, este singelo rapaz que vos escreve não estava interessado nesses nomes, mas sim na parte anônima da coisa: aquelas bandas do DF e Brasil que galgaram seu espaço na seletiva, bandas novas, bandas renomadas em circuitos restritos do rock, ou simplesmente bandas que não eram do conhecimento geral. A missão: encontrar algo de novo, algo de fresco, algo que não se ouve todos os dias. Dos três palcos, dois deles estavam localizados na parte externa do ginásio Nilson Nelson, enquanto o terceiro estava lá dentro. E sem dúvida era o palco que mais prometia, o mais pesado, por onde passariam nomes reconhecidos no cenário nacional. Tal qual um calabouço pronto a ser convertido em inferno sonoro.

Passados os dois dias de festival, a missão teve seu curso desviado. Simplesmente porque não foi encontrado o que se buscava. De picareta nas costas e esperança no coração, fui à montanha do Porão do Rock em busca de ouro, e a única coisa que garimpei foi água e lama. Havia boas bandas? Sim, claro, mesmo que a qualidade do som estivesse ruim para um festival desse porte. Havia vários estilos? Sim, incluindo um artista de choro local! Mas nada de novo, nada de fresco, nada que não se ouça todos os dias. Simples Assim.
Entre o palco interno e os demais havia um vácuo. Um buraco locupletado por um público visivelmente desinteressado em ouvir o que se tocava. De um lado, uma profusão de bandas de Indie Rock exatamente iguais umas às outras, com uma menininha bonitinha nos vocais, uma batidinha com um quê de eletrônica, e uma guitarra com um timbre “antigo”. Do outro, uma profusão de bandas de Hardcore/Metal exatamente iguais umas às outras, com um macho feio vomitando os vocais, uma batida “chacuchacuchacu” em alta velocidade e riffs de guitarra pesados, incompreensíveis e iguais. Uma ou outra banda ia para outro lado, mas sem preencher o vácuo. A animação dos shows, excluindo-se, claro, os artistas mais renomados, era proporcional à roda punk. Alguns nem foram aplaudidos, tão disperso estava o público. É o público de Brasília que é desanimado? Não foi o que se viu no concerto dos Raimundos. É muito fácil para um artista dizer que aqui no DF-Brasil-América Latina não se valoriza uma banda como lá longe, onde os gramados são mais verdes e as velhinhas, metaleiras. Mas o público não é o foco principal deste texto. Nem o sistema de som, nem o esquema de segurança do festival. A música em si está fraca, não há sentido de propulsão ao futuro naquele rock ouvido durante o porão. Existem releituras de estilos e abordagens que já fizeram história, ou o extremismo daquilo que já era suficientemente extremo. Entre o HC/Metal e o Indie Rock/Pop Rock há um vazio no meio do Porão.

E a responsabilidade é dos artistas. Sim, pois o público é e sempre será um agente impulsivo, por vezes pouco fiel, suscetível a modismos e descontinuidades. A fidelidade decorre do que o artista está fazendo no palco, no estúdio, em sua masmorra compositiva. As bandas estão afundadas em conceitos desgastados, estão tocando como ouvintes, não como músicos. Eles ainda estão lá, no sagrado palco do Porão, mas, na minha humilde opinião, é dali para baixo nos próximos anos.

Há um buraco não só no meio do Porão, mas no meio do Rock.   

26.7.11

Existe futuro para o Rock?

Quando você acessa o youtube e vê, por exemplo, um vídeo do AC/DC, um comentário que provavelmente estará lá é: rock'n roll will never die!
Quando você vê um vídeo de uma banda como Violator, certamente haverá um comentário: Old school thrash metal will never die!
Quando você vê um vídeo de uma banda INDIE, você não vê esses comentários, mas o visual e a música denunciam um grande esforço retrô que, ao meu ver, permeia tudo que aparece no rock hoje em dia. Quando eu digo aparece, eu digo o que sai do mar da produção das bandas e se expõe ao público.

Este esforço não é nem de perto um retorno a algumas fases áureas como se pode pensar, mas simplesmente um movimento contemporâneo. Quando se busca a estética rockeira dos tempos de hoje, ela tem insistentemente apontado para o passado. Raiz, Old School, Clássico, essas são as palavras de ordem. A inovação e exploração musical, a abertura de novos caminhos na mata tem soado rala, sem energia para o grande público. Será que todas as terras já têm dono? Será que todas as matas virgens do rock têm trilhas abertas?

O fato é que acabou o sonho do rockstar, pelo menos na acepção Rock do termo. Existem bandas que estão na MTV, na rádio, etc., com grande alcance comercial, mas eles são outras coisas. Eles são mais Britney Spears do que Led Zeppelin ou Guns and Roses. Isso porque ninguém depende mais das majors para ouvir a música que gosta, está tudo ali, na tela do computador. Alguns que não tinham chances comerciais chegam ao público, e alguns que poderiam ser rockstars não são mais tão interessantes comercialmente. A horizontalidade sacrificando o cume da verticalidade.

A inovação artística está aqui e ali, e o caminho para ela nunca esteve tão aberto. Mas o clima é de resgate do que é legítimo, do que já foi feito e tem sua audiência garantida. Acho que muitos deveriam se perguntar se realmente a própria produção realmente merece um espaço no mercado que se transforma. E, mais do que isso, explorar o que ele oferece em termos de dinheiro, que é, em última análise, o que sustenta um trabalho tão árduo como o de levar uma banda pra frente. Eu acho que quando os artistas começarem a se organizar em torno disso, nós veremos um outro tempo artístico no rock. Sem precisar repetir o que já fizeram 30 anos atrás.

12.7.11

Carcass - Corporeal Jigsore Quandary



Devido à piora da minha mão esquerda, não estou conseguindo escrever mais que poucas linhas.
Mas meu ouvido está afiado, e sondou uma coisa boa que eu não conhecia.

A despeito do peso esmagador e letra escatológica (tudo bem, não dá pra entender mesmo), essa música é pura arte.

Hail

18.6.11

Feminismo

Atenção: Conteúdo Explosivo. Use com discrição.

Charles Bukowski foi um poeta e escritor americano, e fez parte da chamada geração beat, sendo companheiro de copo de Ernest Hemingway. Para quem não conhece seu trabalho, ele pode ser resumido da seguinte forma: Bukowski bebe, Bukowski transa com prostitutas, Bukowski bebe mais. Simples, não? E ele foi um bom escritor, direto e sujo. Nada está mais distante do politicamente correto do que o trabalho deste senhor.

Esses dias eu estava num bar chamado Barkowski, e logo o tema Charles Bukowski emergiu. Foi quando uma simpática moça que estava sentada ao meu lado, com os trajes denunciando de antemão sua atividade de antropóloga, disse que se recusava terminantemente a ler Bukowski. Bom, não há nada de errado nisso. Então, eis que ela dá a explicação para tal recusa: não posso ler um autor que me vê como um objeto.

Objeto. Mulher objeto. O que vem na contramão disso? No âmbito da linguagem, seria mulher sujeito. Isso remete à idéia de personalidade. E me remete a uma idéia muito cara a minha pessoa: você sempre será você, mesmo que tente ser outro. Sob este ponto de vista, não há personalidade que não possa ser anulada, diminuída, pois ainda assim está sendo personalidade. Por que então este medo de perdê-la?

Por outro lado, eu entendo, na fala daquela senhorita, uma intenção de não ser objeto. Se uma mulher me deseja, eu serei o objeto de seu desejo. Mas eu não devo pensar a mulher como objeto, pelo menos não publicamente. Que pena, pois para mim é impossível tirar dos homens a mulher-objeto. Eu conheço muitas mulheres possuidoras de várias personalidades interessantes. Mas, à medida que elas não são objeto, são apenas amigas ou conhecidas.

Moral da história: Está fora de moda ser homem.


Música e Internet



Quem não conhece astros formados pelo Youtube, como Justin Bieber e Pc Siqueira?

De fato, para a música, o Youtube e demais ferramentas virtuais são um grande adianto, para não falar no mp3. Uma vez conversava com um músico, e ele pregava para sua banda uma estrutura tradicional de produção, que seria compor-ensaiar-gravar-fazer álbum. É um processo bastante óbvio, mas no que ele me apresentou sua idéia eu retruquei: e o site? Ora, o site será feito para anunciar apresentações, mostrar algumas músicas e só. Por um acaso, este rapaz, além de músico, é programador. E eu disse para ele: camarada, o site da banda é a coisa mais importante dela depois das músicas. Como era de se esperar, ele discordou e afirmou que eu estaria, vamos dizer, viajando na maionese. Bom, eu e mais alguém, em especial este homem do vídeo acima.


Os grandes artistas continuam seguindo lógicas passadas, grande shows e turnês, álbuns, empresários e jabás. Este espaço ainda é e será estreito demais para a maioria dos artistas. A primeira grande mudança que eu quis apontar na discussão acima foi a quebra do CD, e seus principais agressores foram o mp3 e o gravador de CD via computador pessoal. A segunda quebra foi a do rádio, que, se não se quebrou tanto, deixou de ser uma necessidade para artistas que podem postar vídeos e terem suas músicas trafegando pela rede no formato mp3. A terceira foi a gravadora, visto que a tecnologia digital baixou o custo deste processo. É fato que uma gravação bem feita exige equipamento caro, estúdio e um bom produtor, mas o fato é que existe a possibilidade de mostrar sua música com um mínimo de investimento, algo que se reflete na natureza “crua” ou eletrônica de muitos estilos musicais contemporâneos.

Todas estas quebras geraram uma legião de artistas independentes, que transportam sua música para os quatro cantos do mundo com facilidade. Vizualizações no youtube contam mais do que cópias vendidas. Abre-se também o espaço para ramos musicais menos populares, como instrumentistas, estilos extremos, criando nichos específicos para cada um deles. Quem negar tais mudanças está precisando dar uma olhada pela Internet e observar as características das bandas emergentes.
Ainda resta o show, a apresentação ao vivo, e esta continua sendo uma atividade primordial. Não creio que se tenha mudado a dinâmica dos shows, desde os menores aos maiores. Por essa razão, algumas pessoas do meio das bandas de rock e relacionados põem o concerto num pedestal, como se fosse o que restasse para os músicos. O sonho de rockstar continua vivo, mesmo que fora de data. Parece que a esses músicos falta olhar no espelho e na tela do computador.

Dadas as considerações, defendo que as bandas devem ser bandas, ensaiar e compor suas músicas como nos velhos tempos, mas depois daí o foco deve ser outro. É preciso ter em consideração que a popularidade da banda será impulsionada via Internet. Os shows são importantes, mas são menos freqüentes e gastam muito tempo, dinheiro e energia, além dos contatos. O produto que as bandas têm a vender não é um disco, e não é só um ingresso de show, mas sua própria visibilidade. Então, o primeiro passo é a gravação e emulação via youtube e qualquer outro site disponível. Gravação esta que deve ser executada independentemente dos recursos disponíveis: uma câmera de vídeo é o suficiente. Depois, existem técnicas e instrumentos para infectar a rede com seu trabalho. É preciso direcionar a banda para este fim, para esta tecnologia, para o novo meio que surge em matéria musical.


Ou seja, nunca foi tão fácil ter uma banda, mas é preciso foco para utilizar-se de tais facilidades. Para os interessados, sugiro checar este site: talkmusicbiz.com

A Arte Cavalheiresca do Guitarrista Fritador



Comecei a tocar guitarra com treze anos, e de cara caí no heavy metal: Iron Maiden, Metallica, Blind Guardian e outros. Estudava na GTR, uma escola de guitarra muito famosa em Brasília, e também famosa por ser um criadouro de guitarristas virtuosos. Através de treino constante cresci tecnicamente, e não tardou muito para que eu começasse a tocar em bandas de metal.
Para os pouco familiarizados, o heavy metal é um estilo musical de grande exigência técnica, e a guitarra é o seu instrumento principal. Há uma linha de guitarristas de metal que fazem música instrumental, em sua origem influenciados principalmente por Joe Satriani, Eddie Van Halen, Randy Rhoads, entre outros. Eles variam em estilo, mas carregam uma característica em comum: velocidades estonteantes numa forma de tocar que não preza muito pelas dinâmicas. Todo guitarrista de metal ama e odeia esses guitarristas, conhecidos como shredders. Amam pois eles são o ápice do domínio técnico na guitarra-metal no que se refere aos solos, ponto alto de todo guitarrista. Suas músicas, em geral, são um solo só, para desespero dos demais instrumentistas! Mas eles são odiados, pois carregam uma atitude muitas vezes definida como anti-musical. São atletas, malabaristas, não músicos. Pelo menos é isso que um músico diz quando quer dizer “eu sou um músico de verdade”.
Eu era um desses caras que passou a dizer “eu sou um músico de verdade, com feeling”. Passei tanto que acabei por abandonar o heavy metal por um tempo, um tempo onde minha técnica de metal decaiu, mas foi recompensada por outras habilidades musicais.
E agora estou de volta às origens, treinando aqueles exercícios que todo aspirante à shredder buscou fazer, a fim de retomar minha técnica metaleira. Além disso, sinto um prazer intrínseco em fazer exercícios na guitarra, a ponto de eu me lesionar e ferrar totalmente as pontas dos meus dedos.
Voltando à odiada raça dos guitarristas fritadores, existe neste ódio uma dualidade, um mal entendido acerca dos conceitos de feeling e musicalidade. A imagem do feeling sugere um blueseiro fazendo um vibrato e uma cara de orgasmo, com uma distorção bem leve. Por outro lado, a musicalidade seria um jazzeiro que aprecia as raízes brasileiras ou teuto-vasconças, usa escalas complicadas e não vê a mínima semelhança entre um cara fritando no piano e um cara fritando na guitarra. Estas duas concepções tornam o shredder a anti-música em seu esplendor.
Será que uma linha instrumental sem dinâmica não pode encontrar seu feeling numa espécie de fúria cuspidora de notas? Será que é necessário tocar um padrão tetracompassado de jazz vasconço para ser música? Será que é um crime ser um acrobata, exibindo num palco sua destreza e seus feitos? Quem reponde sim a todas essas perguntas são os próprios shredders, que escondem sua vontade de fritar atrás de uma afirmação, expressa na forma de música (em geral, ruim de se ouvir): “Eu sou um músico de verdade”. O que ele deveria estar dizendo é: eu sou um guitarrista fritador, nada mais, nada menos.

A entidade Blog

Pois é, depois de tanto rodar, enfim eu resolvi esvaziar um pouco a cabeça com esta formidável ferramenta chamada blog. Escrever sempre foi algo um tanto necessário para mim, mas nos dez anos que eu efetivamente escrevi, minha prática deixou a desejar.


Mas escrever é uma definição muito parca, que remete aos usos da palavra nas mais variadas formas. Eu já escrevi ficção, material para RPG (roleplaying game, aquele negócio "de nerd"), trabalhos de sociologia, letras de música e alguma coisa a mais que eu esqueci. Cada um deles é uma atividade diferente, e escrever um blog tem suas particularidades.


Escrever um blog te empurra para temas mais específicos, a não ser que você queira fazer algo do tipo "minhas reflexões", uma coisa bem egocêntrica e, na maior parte das vezes, rasa. Pelo menos é isso que eu percebo ao navegar pela net atrás da concorrência.


Por outro lado, escrever um blog confunde texto e autor de uma forma peculiar, uma personalidade que é quase um perfil de rede social. Talvez seja o antepassado do face book, o elo perdido entre a produção e a masturbação.


Mas tudo isso eu digo da boca pra fora. Estou com boas expectativas para escrever este blog e atualizá-lo, que é o mais difícil. Mas por quê escrever aqui? Ou melhor, o que eu tenho para escrever?
Por enquanto eu tomo como prática e campo de testes, e como vazão às palavras que às vezes me fazem falar sozinho. Por enquanto, este blog será "minhas reflexões"