31.7.11

Um Buraco no meio do Porão

O porão do rock é uma grande tradição aqui nos sertões do Brasil. Uma das questões que mais instigam os “bandeiros” de Brasília é tocar no Porão, como é conhecido, com a oportunidade de atingir um público muito mais amplo que o de costume, além de dividir palco com artistas renomados. Muitos viveram o início dos dias de glória ali, o que oficializou o Porão do Rock como principal alavanca para as bandas de rock e metal do DF.

O último fim de semana, mais precisamente os dias 29 e 30 de julho de 2011, foi um fim de semana de porão do rock. Ingresso de preço irrelevante, local costumeiro, o frio noturno do inverno brasiliense que caracteriza o festival, tudo estava nos conformes. A maior parte do público foi atrás de alguns dos grandes nomes que figuravam na programação: RAIMUNDOS, ANGRA, KRISIUN, JOHN SPENCER, SYMFONIA (de André Matos e Timo Tolkki). Porém, este singelo rapaz que vos escreve não estava interessado nesses nomes, mas sim na parte anônima da coisa: aquelas bandas do DF e Brasil que galgaram seu espaço na seletiva, bandas novas, bandas renomadas em circuitos restritos do rock, ou simplesmente bandas que não eram do conhecimento geral. A missão: encontrar algo de novo, algo de fresco, algo que não se ouve todos os dias. Dos três palcos, dois deles estavam localizados na parte externa do ginásio Nilson Nelson, enquanto o terceiro estava lá dentro. E sem dúvida era o palco que mais prometia, o mais pesado, por onde passariam nomes reconhecidos no cenário nacional. Tal qual um calabouço pronto a ser convertido em inferno sonoro.

Passados os dois dias de festival, a missão teve seu curso desviado. Simplesmente porque não foi encontrado o que se buscava. De picareta nas costas e esperança no coração, fui à montanha do Porão do Rock em busca de ouro, e a única coisa que garimpei foi água e lama. Havia boas bandas? Sim, claro, mesmo que a qualidade do som estivesse ruim para um festival desse porte. Havia vários estilos? Sim, incluindo um artista de choro local! Mas nada de novo, nada de fresco, nada que não se ouça todos os dias. Simples Assim.
Entre o palco interno e os demais havia um vácuo. Um buraco locupletado por um público visivelmente desinteressado em ouvir o que se tocava. De um lado, uma profusão de bandas de Indie Rock exatamente iguais umas às outras, com uma menininha bonitinha nos vocais, uma batidinha com um quê de eletrônica, e uma guitarra com um timbre “antigo”. Do outro, uma profusão de bandas de Hardcore/Metal exatamente iguais umas às outras, com um macho feio vomitando os vocais, uma batida “chacuchacuchacu” em alta velocidade e riffs de guitarra pesados, incompreensíveis e iguais. Uma ou outra banda ia para outro lado, mas sem preencher o vácuo. A animação dos shows, excluindo-se, claro, os artistas mais renomados, era proporcional à roda punk. Alguns nem foram aplaudidos, tão disperso estava o público. É o público de Brasília que é desanimado? Não foi o que se viu no concerto dos Raimundos. É muito fácil para um artista dizer que aqui no DF-Brasil-América Latina não se valoriza uma banda como lá longe, onde os gramados são mais verdes e as velhinhas, metaleiras. Mas o público não é o foco principal deste texto. Nem o sistema de som, nem o esquema de segurança do festival. A música em si está fraca, não há sentido de propulsão ao futuro naquele rock ouvido durante o porão. Existem releituras de estilos e abordagens que já fizeram história, ou o extremismo daquilo que já era suficientemente extremo. Entre o HC/Metal e o Indie Rock/Pop Rock há um vazio no meio do Porão.

E a responsabilidade é dos artistas. Sim, pois o público é e sempre será um agente impulsivo, por vezes pouco fiel, suscetível a modismos e descontinuidades. A fidelidade decorre do que o artista está fazendo no palco, no estúdio, em sua masmorra compositiva. As bandas estão afundadas em conceitos desgastados, estão tocando como ouvintes, não como músicos. Eles ainda estão lá, no sagrado palco do Porão, mas, na minha humilde opinião, é dali para baixo nos próximos anos.

Há um buraco não só no meio do Porão, mas no meio do Rock.   

26.7.11

Existe futuro para o Rock?

Quando você acessa o youtube e vê, por exemplo, um vídeo do AC/DC, um comentário que provavelmente estará lá é: rock'n roll will never die!
Quando você vê um vídeo de uma banda como Violator, certamente haverá um comentário: Old school thrash metal will never die!
Quando você vê um vídeo de uma banda INDIE, você não vê esses comentários, mas o visual e a música denunciam um grande esforço retrô que, ao meu ver, permeia tudo que aparece no rock hoje em dia. Quando eu digo aparece, eu digo o que sai do mar da produção das bandas e se expõe ao público.

Este esforço não é nem de perto um retorno a algumas fases áureas como se pode pensar, mas simplesmente um movimento contemporâneo. Quando se busca a estética rockeira dos tempos de hoje, ela tem insistentemente apontado para o passado. Raiz, Old School, Clássico, essas são as palavras de ordem. A inovação e exploração musical, a abertura de novos caminhos na mata tem soado rala, sem energia para o grande público. Será que todas as terras já têm dono? Será que todas as matas virgens do rock têm trilhas abertas?

O fato é que acabou o sonho do rockstar, pelo menos na acepção Rock do termo. Existem bandas que estão na MTV, na rádio, etc., com grande alcance comercial, mas eles são outras coisas. Eles são mais Britney Spears do que Led Zeppelin ou Guns and Roses. Isso porque ninguém depende mais das majors para ouvir a música que gosta, está tudo ali, na tela do computador. Alguns que não tinham chances comerciais chegam ao público, e alguns que poderiam ser rockstars não são mais tão interessantes comercialmente. A horizontalidade sacrificando o cume da verticalidade.

A inovação artística está aqui e ali, e o caminho para ela nunca esteve tão aberto. Mas o clima é de resgate do que é legítimo, do que já foi feito e tem sua audiência garantida. Acho que muitos deveriam se perguntar se realmente a própria produção realmente merece um espaço no mercado que se transforma. E, mais do que isso, explorar o que ele oferece em termos de dinheiro, que é, em última análise, o que sustenta um trabalho tão árduo como o de levar uma banda pra frente. Eu acho que quando os artistas começarem a se organizar em torno disso, nós veremos um outro tempo artístico no rock. Sem precisar repetir o que já fizeram 30 anos atrás.

12.7.11

Carcass - Corporeal Jigsore Quandary



Devido à piora da minha mão esquerda, não estou conseguindo escrever mais que poucas linhas.
Mas meu ouvido está afiado, e sondou uma coisa boa que eu não conhecia.

A despeito do peso esmagador e letra escatológica (tudo bem, não dá pra entender mesmo), essa música é pura arte.

Hail