Para aqueles que já leram alguma coisa aqui, eu estou de volta.
É nóis
Blog do Moral
Filosofia de boteco e conversa fiada de filósofo.
23.3.12
31.10.11
Geek Music
Em tempos de Internet, o tempo é dos Geeks.
Para clarear o que eu estou dizendo, é preciso entender que, em seus primórdios, a grande comunidade de programadores que pouco a pouco formulou a rede mundial se caracterizava pela troca de informação e pela popularização de seus avanços em busca de um certo tipo de “honra” ante a comunidade que viria a ser denominada a cultura hacker. Tendo a Internet atingindo um bom grau de maturidade nos dias de hoje, é notável como algumas orientações antes vistas apenas dentro daquele grupo de universitários esquisitos e anti-sociais se ampliaram ao público leigo. Pois a Internet é o espaço onde se busca a informação por si só, onde os produtos culturais são personalizados em torno da pessoa que os “encontra”. Todos aqueles com uma mínima experiência na web têm os sites que eles encontraram, os vídeos que só ele e mais mil pessoas ao redor do mundo sabem da existência. Enquanto com a TV e a mídia gravada há um bom grau de passividade na eleição de seus filmes, músicas, programas, a Internet proporciona uma atividade inversa.
Considerando que este ambiente é aquele que, com efeito, destrói dia a dia a indústria fonográfica e define as tendências da audição musical entre os jovens, pode-se notar que há uma personalização nunca vista antes no que diz respeito à seleção pessoal de artistas. O movimento retrô, a revalorização de artistas que fizeram sucesso ao longo do século XX segue este preceito. Pois um vídeo do Chuck Berry está em igualdade de visibilidade ao de qualquer artista contemporâneo dentro do site de compartilhamento. Um jovem do século XXI, com o esforço de alguns cliques e downloads, transforma seu HD num acervo completo de rock dos anos 70. Ele vai atrás, e ele tem em torno de si um conjunto próprio e muito específico de produtos culturais, muitas vezes desconhecidos e outrora esquecidos ou subvalorizados.
Neste momento, ainda estamos numa fase onde se busca a música no contexto daquilo que aprendemos a ouvir nos anos 90 e início deste século, isto é, rock-pop. Volta-se subitamente para as raízes deste tipo de música, que é o que se entende melhor, o que se encaixa em nossos ouvidos. Porém, o formato deste tipo de música é uma potencialidade de cópia, milhões de cópias. Não que isto diminua a qualidade da música, mas é um tipo que se dá bem quando copiada e reproduzida ad infinitum. Caso passe este momento de retrocesso constante, não precisar-se-á fazer um som marcante, de refrões e de simplicidade para capturar o público. Pois, na web, é o público que captura o artista. A partir desta linha de pensamento, podemos concluir que acabou esta história de música comercial daqui para frente, e que o artista deve encontrar seu espaço naquele grupo seleto e específico que se personaliza através da música, de vários grupos como estes. É a hora dos Geeks.
28.9.11
Classic-Rock in Rio
Em meio ao frissom midiático da quarta edição do Rock in Rio, um discurso se faz onipresente para todos aqueles minimamente envolvidos com o Rock e seus rebentos, sejam headbangers, indies, etc.
“Tá comercial demais esse negócio, pasteurizado”
“IVETE SANGALO? CLÁUDIA LEITE? E ainda têm a cara de pau de chamar de Rock in Rio?”
E dessas mesmas bocas, saem alguns comentários que, ao meu ver, são apenas a outra face da moeda acima citada
“MOTÖRHEAD deu uma aula de Rock, sem enrolação, sem frufru”
De um lado, o bussiness. O dinheiro tem que vir, e, para isso, pavimentou-se todas as possibilidades de público para o festival, fazendo-se misturas muitas vezes duvidosas entre artistas que compartilham o palco, com duetos e infinitas participações especiais, chamando nomes da música com público sólido, mas que guardam grande discrepância com, digamos, o próprio nome do festival.
Do outro lado, o clássico, o unânime, principalmente no que se refere às bandas de heavy metal. SEPULTURA, ANGRA, METALLICA, RED HOT, os caras que estão tocando o Rock com R maiúsculo, oriundos de outras cenas, outros tempos. Mesmo o SLIPKNOT, mais recente, cai nessa categoria (por sinal, para mim, o melhor concerto de todos até agora).
O que é novo está morno, salvo uma ou outra excessão. O GLORIA, por exemplo, é uma boa banda, mas mingua ao dividir espaço com aqueles que originalmente fazem o som que eles fazem. O MATANZA, outra banda muito competente, viu as bandas glorificadas oferecerem ao público tudo aquilo que eles têm para oferecer em sua forma original, à excessão da língua. Olha que esses são os melhores, pois acho que nem preciso mais gastar palavras para caracterizar o movimento indie e neo-regionalista. Ao menos, no segundo caso, a matriz original estava lá, o NAÇÃO ZUMBI, mesmo que numa parceiria ao meu ver bastante inoportuna.
O público ficou em chamas, a grandiosidade da audiência espantava cada um dos músicos que subia no tablado. Público este sedento por Rock, não resta a menor sombra de dúvida. Então, o que está acontecendo? Se o Rock realmente estivesse morrendo, estas pessoas não estariam fazendo o que fazem, este público não estaria agindo com tem agido. Mesmo que os quarentões, cinquentões e até os 64 anos de LEMMY KILMISTER tenham sido as atrações principais (de rock, naturalmente), o público jovem expressou com toda sua força a sede de rolar na pedra.
Alex Ross, em seu mais novo livro, faz uma interessante comparação entre as fases da música erudita/clássica e o jazz, como que insinuando o destino de todos os estilos que marcaram uma era e ensinaram uma geração a se perder na música. Basicamente, uma dialética artística, onde a revolução inicial se transforma em solenidade, esta se tornando esnobe e sendo combatida por uma contra-cultura, esta contra-cultura sendo combatida por um resgate ao estado originário, por sua vez seguido de uma limitação criativa. Limitação esta não relativa à criatividade individual do músico, mas às possibilidades de originalidade dentro do estilo. Em suma, seu argumento é: “Ao fim, toda música se torna clássica”.
Se comparássemos este modelo ao Rock, eu diria que estamos numa fase onde as pessoas têm pouca paciência para invenções de moda, para os rebentos mais recentes da sua evolução estilística. Old school é a palavra de ordem, ao ponto do estilo vigente na mídia ter como pressuposto estético o retorno aos “tempos de ouro”. Não há horizonte revolucionário, a atitude revolucionária do Rock tem como seus ícones coroas da idade de nossos pais. Emula-se a rebeldia e ruptura de outras guerras, de outras revoluções. Diz-se que falta “atitude” nos rockeiros atuais, e vangloria-se esta mesma “atitude” naqueles que fazem o que já foi feito, naqueles que se privam de mudar as coisas e botam o pé no chão, ou melhor, no chão dos anos 60, 70, 80. O público é sincero, e a energia que eles buscam no Rock é uma energia que, agora, só conseguem enxergar no passado. Não adianta criticar esta postura, pois não é derivada de nenhuma falta de caráter, investimento ou talento artísco.
Ainda há milhões de corações e ouvidos junto ao Rock’n Roll, mas há pouco a se fazer por sua evolução. Ele não está morrendo, de forma alguma. Está apenas se tornando clássico.
7.8.11
O futuro das bandas: rentável, artisticamente rico, mas quase impossível de ganhar adeptos hoje em dia.
As bandas estão se ferrando à esquerda e à direita. Ponto. E o motivo disso é tão simples como a afirmação anterior. Simpelsmente não ganham mais dinheiro. Ok, antigamente só algumas ganhavam dinheiro, mas isso era suficiente para que puxasse todo o underground. Hoje em dia, as bandas que ganham dinheiro de verdade, isto é, vendendo disco, são bandas com uma base de fãs sólida e fiel, criada ao longo de ao menos uma década. E, mais importante, ao longo de uma década onde efetivamente se comprava discos, mais precisamente dos anos 40 até os anos 90. Tenho boas novas para aqueles que querem montar uma banda, gravar um disco e fazer sucesso com ele: não vai rolar, seja você o músico mais talentoso e carismático do mundo. A não ser que você seja uma LADY GAGA ou um JUSTIN BIEBER, e mesmo essa galera não ganha grana com disco! Eles ganham com aparições na mídia mainstream e com a publicidade que geram para esta. Mas já que o papo se volta mais ao rock e suas vertentes menos “televisivas”, não tem para onde correr. Na verdade até tem, mas parece que a maioria dos artistas está se esquecendo que o dinheiro é que possibilita se dedicar ao árduo trabalho de produção musical. Sem ele, é hobby, com menos tempo, menos qualidade, menos comprometimento e menos construção.
Este porto seguro, a Internet, inicialmente foi um vilão. E na mente de muitos ainda é, pois estes, esclarecidos em parte, pensam na grana. Porém, em vez de pensar na grana e na internet juntos, soltam aquelas pérolas que, se por um lado me desanimam, me alegra pensar que não há muitas pessoas afim de competir por dinheiro e publicidade num negócio promissor e praticamente inexistente. Bom para quem quiser. Perólas do tipo “não baixem música! Comprem o CD para apoiar o rock nacional!”. Ahã. Como se os ouvintes estivessem realmente preocupados. Como se antigamente as pessoas não tivessem que ferir seu orçamento só para ouvir música, pois 30 reais num CD não é pouca coisa para quem ouve centenas de artistas, cada um destes com dezenas de albuns. Apelar para esse tipo de coisa é caridade, não uma base de negócios, necessaria à sobrevivência da música como um todo.
Existe o outro lado. Aqueles que começaram a ver a internet como um aliado. E alguns até foram mais longe, vendo a internet como o futuro do músico. Postam vídeos no yout.., disponibilizam som no mysp..., e com isso ganham visibilidade e popularidade. Porém, parece que eles são um bando de herdeiros de fortunas, pois, em termos de negócios, dão um tiro no próprio pé. Você vai no site duma banda dessas, com sucesso e público consistente no youtube e myspace, e vê eles promovendo um CD! Parece lógico, sensato, até óbvio, mas é uma das maiores incongruências possíveis.
Vou fazer um paralelo fanasioso. Imagine que fosse possível, por tecnologia de teletransporte, “baixar” gratuitamente uma peça de roupa duma grife, que iria aparecer direto na sua casa. Agora, vamos supor que esta grife tivesse um site que disponibilizasse o download grátis de roupas. E que neste mesmo site, houvesse um anúncio: Passe na nossa loja e compre algumas roupas. Você compraria a roupa na loja, podendo baixar de graça? Alguém compraria? Certamente a loja iria à falência em menos de um mês.
Agora, falemos de música. Não é fantasia, você realmente pode baixar uma música gratuita e ouvi-la no seu computador! Agora, suponhamos que o artista em questão tenha um site, onde se pode ouvir ou baixar as músicas gratuitamente. E neste mesmo site, certamente haverá uma anúncio “Compre aqui o novo álbum da banda, por 30$”. De repente, a fantasia absurda e até hilária se confirma na realidade. O artista só não fale pois a visibilidade que ele ganha na web o permite fazer shows e mais shows. Pobres, porém ativos. Mas sem horizontes de expansão financeira. Ou seja, vai ter que acabar esse negócio de 200 shows por ano quando o cabeludo tiver uma família para sustentar e tiver que fazer um concurso público, ou, para aqueles que deixaram tudo para viver de rock, ser frentista de posto de gasolina. As bandas estão nadando em uma popularidade que, segundo a lógica antiga do mercado musical, lhes renderia dinheiro. Mas, adivinhem só, a lógica morreu. Se não morreu, está em seu epitáfio, em seus últimos suspiros.
Mas visibilidade sempre gera dinheiro, popularidade sempre gera dinheiro. Então para onde está indo a renda que estas bandas geram com seu trabalho? Ah, enfim o novo vilão surge, mascarado na forma de propagador dos artistas e de democratizador. E ele concentra em si não só um, mas vários artistas. E, ao contrário da velha indústria fonográfica, não dá nem um centavo para o músico.
Seu nome é Yout... . Seu nome é Myspa... . E alguns outros que catalogam o conteúdo criado pelos músicos, vêem suas plataformas com um movimento astronômico de usuários que buscam estes mesmos músicos, e fazem dinheiro da única forma possível para aqueles que vivem de produzir conteúdo gratuito, desde a época do surgimento da imprensa: propaganda. Pois sua música está na plataforma myspa... e yout..., e é pra eles que os anunciantes pagam. Eles popularizam o artista e, ao mesmo tempo, ficam com os ganhos.
A principal dificuldade que os músicos têm na hora de se dar conta disso é justamente o fim da produçao musical que eles almejam. E este fim é o produto-álbum, seja CD, vinil, K7 ou DVD. E a própria estrutura da música está adaptada para isso. A banda é o símbolo derradeiro da música feita a fim de se produzir um objeto, que deve ter milhões de cópias vendidas. Mas agora o conteúdo deste objeto é gratuito. E, pior ainda, muitos artistas vêem sua arte impossibilitada de voar livre pela web por contratos de gravadoras, detentoras do direito de cópia. O tiro no pé aqui é propagar gratuitamente seu som (que hoje vale mais a pena do que se reduzir ao CD, até porque seus próprios fãs farão isso por você) com a finalidade de propagar um produto. E, pasmem, o mesmo produto que se está oferecendo gratuitamente naquele exato momento. É só se lembrar da anedota do download de roupas que eu escrevi acima. O que se deveria fazer é pensar no conteúdo. E em ganhar com esse conteúdo. E ganhar com conteúdo significa ganhar com anúncios. E ganhar com anúncios significar estar em posse, ou pelo menos ser um funcionário oficial, do espaço onde este conteúdo é veiculado. E para que isso ocorra, é preciso uma mudança ainda mais profunda, na própria forma como a música é produzida e executada. Pois a música-produto, mesmo que seja de uma banda de ultra-prog-gore, tem o sentido de cópia. Cópia de albuns. O pote de ouro ficará com aqueles que direcionarem sua música a um sentido de conteúdo: gratuito, variado, em grande quantidade e, o mais importante, sediado num espaço publicitário densamente visitado. Espaço este, por sua vez, em contato direto com o produtor do conteúdo, seja numa relaçao de posse ou numa relação empregatícia.
No outro lado da moeda, está o sonho, o desejo de ser o METALLICA, o GUNS’n ROSES, de tirar seu dinheiro dos CDs, ficar rico com isso, emplacar músicas consagradas, de ter um álbum seu na mão de cada adolescente rockeiro. Pois é, eu gostaria de ter sido um pioneiro na exploração do petróleo e fundar a US Oil, eu gostaria de ter uma colônia na África para produzir cana-de-açúcar com trabalho escravo. Tem que ser realista, deixar seu sonho apenas na sua própria realização musical, que, ao fim, é o que importa, mesmo para aqueles que ficaram milionários com suas vendas de álbuns.
Agora, se você acha que eu não estou falando nada com nada, é melhor deixar a franja crescer e bater na porta da MTV, da Globo, pois o meio termo é para aqueles que herdaram uma fortuna e não têm que tirar da música autoral seu pão de cada dia.
1.8.11
Vida inteligente na indústria do rock parte 2: Freak Kitchen
Ah, rapaz! Dou continuidade à série falando sobre uma banda que há muito está na estrada, virando a cabeça daqueles que a ouvem. Porém, o som deles é como um sopro de vida no hard rock/metal contemporâneo e, principalmente, para os guitarristas afundados num mar de Satrianis e Malmsteens Aqui, o ponto forte não está na inovação estrutural, mas na música que eles produzem. Senhoras e Senhores, com vocês, Mattias "IA" Eklundh e o Freak Kitchen!
É quase impossível falar de Freak Kitchen sem falar em IA. Para quem não o conhece, é um sujeito sueco, natural de Gotemburgo, terra do IFK (para os futeboleiros de plantão). Mesmo que não seja famoso ao grande público, já é considerado um dos maiores guitarristas de todos os tempos, com estilo único, virtuosismo, e alguns artifícios técnicos que ele mesmo desenvolveu, em especial os seus harmônicos alavancados que não soa igual a nada que você tenha ouvido. Enfim, o Freak Kitchen surge da necessidade deste sujeito em fazer um som com a sua cara, com a colaboração de dois outros destros músicos, Christer Örtefors, baixista de visual único, e o baterista Björn Fryklund (ou seria Freaklund?).
E o que eu tenho a dizer sobre esses caras? Inovação, alcance técnico, experimentação, fusão, tudo num formato que, pasmem, não te faz dormir na cadeira. Muito pelo contrário, as músicas são empolgantes e têm uma grande tangibilidade para aqueles que não se interessam pelo aspecto técnico da coisa. É heavy metal, mas quase não se vê lugares-comuns do estilo ali. É progressivo, com compassos quebrados e linhas instrumentais, mas tudo de forma concisa, e até suingada. É rock, mas está cheio de influências diversas.
Enfim, são os filhos do Zappa em sua versão "viking", metálica e loura. Para aqueles que desejam ouvir Mattias Eklundh em sua carreira solo, busquem por Freak Guitar, produzido pela empresa de Steve Vai, que deve ter tido um surto quando ouviu o camarada acima pela primeira vez.
Mas nem tudo são flores, mesmo que o Freak Kitchen seja um campo densamente florido. O site deixa a desejar. A estrutura de marketing é a mesma de todas as bandas que eu tanto cutuco. O que compensa é o fato de IA ser um grande nome no campo guitarrístico, gerando boa profusão de endorsements visíveis no site. E o blog é muito interessante, principalmente devido ao fato de Mattias ser uma figuraça. Muito bom o diário deles em Dubai.
Há vida inteligente, pessoal! Não percam as esperanças!
Vida inteligente na indústria do rock parte 1: Moonalice
Começo aqui uma série de referências a artistas que representam propulsão, futuro, tanto em termos musicais como em termos mercadológicos. O primeiro estreante é o Moonalice.
Moonalice é uma banda de músicos veteranos, que, em seu projeto musical, apresentam algo agradável, porém longe de ser inovador. Basicamente, eles fazem um rock ao estilo Hippie de San Francisco, buscando um som raiz. E o fazem com muita destreza.
Porém, o que me chamou a atenção no Moonalice não foi o som. O que chamou a atenção foi a estrutura virtual-mercadológica vanguardista que eles criaram. Para começar, eles transmitem os concertos ao vivo através de um canal no twitter chamado Moonalice TV. Além do aspecto ao vivo, há um acervo enorme e de grande qualidade visual e sonora de praticamente todos os concertos que eles realizaram. Parece básico, mas eu passei as últimas semanas apreciando com desgosto vários websites de bandas e seus vídeos na internet.
Em segundo lugar, eles se focaram em criar em torno da banda uma gama de produtos em consonância com a proposta artística. As camisetas são muito interessantes, não é aquela coisa preta ou branca com o logo da banda. Eles criaram posters. Livros. De tudo um pouco e, mais importante, este de tudo um pouco em integridade com o produto musical que eles oferecem.
Em terceiro lugar, eles, ao invés de cometer a cagada bandística (pelo menos nos dias de hoje) de fazer aquele álbum de doze faixas sob o bastão lucrativo de um selo ou gravadora, eles produziram EP's de cinco músicas, vendidos a cinco dólares cada.
Enfim, eis a vida inteligente mostrando sua cara no desgastado mundo das bandas de rock.
Chequem e apreciem com cuidado: http://www.moonalice.com/
Moonalice é uma banda de músicos veteranos, que, em seu projeto musical, apresentam algo agradável, porém longe de ser inovador. Basicamente, eles fazem um rock ao estilo Hippie de San Francisco, buscando um som raiz. E o fazem com muita destreza.
Porém, o que me chamou a atenção no Moonalice não foi o som. O que chamou a atenção foi a estrutura virtual-mercadológica vanguardista que eles criaram. Para começar, eles transmitem os concertos ao vivo através de um canal no twitter chamado Moonalice TV. Além do aspecto ao vivo, há um acervo enorme e de grande qualidade visual e sonora de praticamente todos os concertos que eles realizaram. Parece básico, mas eu passei as últimas semanas apreciando com desgosto vários websites de bandas e seus vídeos na internet.
Em segundo lugar, eles se focaram em criar em torno da banda uma gama de produtos em consonância com a proposta artística. As camisetas são muito interessantes, não é aquela coisa preta ou branca com o logo da banda. Eles criaram posters. Livros. De tudo um pouco e, mais importante, este de tudo um pouco em integridade com o produto musical que eles oferecem.
Em terceiro lugar, eles, ao invés de cometer a cagada bandística (pelo menos nos dias de hoje) de fazer aquele álbum de doze faixas sob o bastão lucrativo de um selo ou gravadora, eles produziram EP's de cinco músicas, vendidos a cinco dólares cada.
Enfim, eis a vida inteligente mostrando sua cara no desgastado mundo das bandas de rock.
Chequem e apreciem com cuidado: http://www.moonalice.com/
31.7.11
Um Buraco no meio do Porão
O porão do rock é uma grande tradição aqui nos sertões do Brasil. Uma das questões que mais instigam os “bandeiros” de Brasília é tocar no Porão, como é conhecido, com a oportunidade de atingir um público muito mais amplo que o de costume, além de dividir palco com artistas renomados. Muitos viveram o início dos dias de glória ali, o que oficializou o Porão do Rock como principal alavanca para as bandas de rock e metal do DF.
O último fim de semana, mais precisamente os dias 29 e 30 de julho de 2011, foi um fim de semana de porão do rock. Ingresso de preço irrelevante, local costumeiro, o frio noturno do inverno brasiliense que caracteriza o festival, tudo estava nos conformes. A maior parte do público foi atrás de alguns dos grandes nomes que figuravam na programação: RAIMUNDOS, ANGRA, KRISIUN, JOHN SPENCER, SYMFONIA (de André Matos e Timo Tolkki). Porém, este singelo rapaz que vos escreve não estava interessado nesses nomes, mas sim na parte anônima da coisa: aquelas bandas do DF e Brasil que galgaram seu espaço na seletiva, bandas novas, bandas renomadas em circuitos restritos do rock, ou simplesmente bandas que não eram do conhecimento geral. A missão: encontrar algo de novo, algo de fresco, algo que não se ouve todos os dias. Dos três palcos, dois deles estavam localizados na parte externa do ginásio Nilson Nelson, enquanto o terceiro estava lá dentro. E sem dúvida era o palco que mais prometia, o mais pesado, por onde passariam nomes reconhecidos no cenário nacional. Tal qual um calabouço pronto a ser convertido em inferno sonoro.
Passados os dois dias de festival, a missão teve seu curso desviado. Simplesmente porque não foi encontrado o que se buscava. De picareta nas costas e esperança no coração, fui à montanha do Porão do Rock em busca de ouro, e a única coisa que garimpei foi água e lama. Havia boas bandas? Sim, claro, mesmo que a qualidade do som estivesse ruim para um festival desse porte. Havia vários estilos? Sim, incluindo um artista de choro local! Mas nada de novo, nada de fresco, nada que não se ouça todos os dias. Simples Assim.
Entre o palco interno e os demais havia um vácuo. Um buraco locupletado por um público visivelmente desinteressado em ouvir o que se tocava. De um lado, uma profusão de bandas de Indie Rock exatamente iguais umas às outras, com uma menininha bonitinha nos vocais, uma batidinha com um quê de eletrônica, e uma guitarra com um timbre “antigo”. Do outro, uma profusão de bandas de Hardcore/Metal exatamente iguais umas às outras, com um macho feio vomitando os vocais, uma batida “chacuchacuchacu” em alta velocidade e riffs de guitarra pesados, incompreensíveis e iguais. Uma ou outra banda ia para outro lado, mas sem preencher o vácuo. A animação dos shows, excluindo-se, claro, os artistas mais renomados, era proporcional à roda punk. Alguns nem foram aplaudidos, tão disperso estava o público. É o público de Brasília que é desanimado? Não foi o que se viu no concerto dos Raimundos. É muito fácil para um artista dizer que aqui no DF-Brasil-América Latina não se valoriza uma banda como lá longe, onde os gramados são mais verdes e as velhinhas, metaleiras. Mas o público não é o foco principal deste texto. Nem o sistema de som, nem o esquema de segurança do festival. A música em si está fraca, não há sentido de propulsão ao futuro naquele rock ouvido durante o porão. Existem releituras de estilos e abordagens que já fizeram história, ou o extremismo daquilo que já era suficientemente extremo. Entre o HC/Metal e o Indie Rock/Pop Rock há um vazio no meio do Porão.
E a responsabilidade é dos artistas. Sim, pois o público é e sempre será um agente impulsivo, por vezes pouco fiel, suscetível a modismos e descontinuidades. A fidelidade decorre do que o artista está fazendo no palco, no estúdio, em sua masmorra compositiva. As bandas estão afundadas em conceitos desgastados, estão tocando como ouvintes, não como músicos. Eles ainda estão lá, no sagrado palco do Porão, mas, na minha humilde opinião, é dali para baixo nos próximos anos.
Há um buraco não só no meio do Porão, mas no meio do Rock.
Assinar:
Postagens (Atom)